Para inicio de conversa, pinga artesanal de qualidade é feita com cana-de-açúcar tratada a pão-de-ló. Que é isso? A cana tem que ser cultivada sem agrotóxico e colhida sem fogo. Sem queima da palha para facilitar a colheita (um velho recurso usado durante o corte da cana). Cana para alambique é outra coisa. Se não, vai ter aguardente com gosto de cinzas...
A matéria-prima da pinga artesanal entra na moenda com a cor que Deus lhe deu... no ponto D! Docinha.
Depois, no processo de fermentação, os nutrientes também são exclusivamente naturais. Ou seja, o fermento tem que ser caipira. Ingredientes? Caldo da cana moida, fubá e farelo de arroz sem inseticidas. Processo trabalhoso e lento. Demora de 18 a 38 horas. Mas faz a diferença. O fermento natural carrega uma flora microbiana mista que produz, além do álcool, outros componentes que realçam o sabor e o aroma da cachaça. Tem a ver com o afamado bouquet. Em português: buquê!
E você sabia que o aroma depende de uma higiene máxima durante a fermentação? O cheiro exalado durante a ação do fermento denuncia se há ou não contaminação por bactérias acéticas, aquelas que dão aquele odor desagradável de vinagre no ar. Lá se foi o buquê...
E a cachaça industrializada? Enquanto a artesanal utiliza só caldo de cana-de-açúcar, a industrializada geralmente é feita de uma mistura de melaço e aguardente. Além disso, o processo de fermentação da cachaça industrial é acelerado por aditivos químicos. Leva no máximo cinco horas.
E a destilação? Como é a destilação da cachaça industrializada? Realizada em aparelhos chamados de colunas ou troncos de destilação! Destiladores continuos, aquecidos a vapor, atingindo uma proporção de milhares de litros por dia. O que também não é facil. Exige a competência de profissionais altamente qualificados para tocar o processo.
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Artigo do livro Cachaça Artesanal: do alambique a mesa (SENAC)